segunda-feira, 30 de julho de 2012


NA BOA

Sei que não sou bonita, a natureza se empenhou em que não me notassem. Não pareço muito esperta, não sei truques para impressionar, só para ser deixada em paz. Cuido de sobreviver, e não são poucos os que se opõem; prontos a se alimentarem da minha ruina, de todos os lados me atacam e a mim, ser sem armas, resta esconder-me, em mim mesma, primeiro, depois em meio à massa que me dá sustento. Aos atacantes viventes juntam-se os ditos inanimados que, no entanto, teimam em mover-se, muitas vezes em escala catastrófica. Também os excessos do clima me ameaçam: alagamentos que me põem em fuga a todo custo acima, deixando cama e mesa; frio que endurece a terra, enrijece o corpo e retarda as maturações; sol causticante na pedra, do qual ao menos posso abrigar-me ao pé de uma porta, e esperar que não se abra ela e alguém diga grosserias como: ai, que nojo, uma lesma.

segunda-feira, 2 de julho de 2012


MARGINAL VIVO OU MORTO


Vontade de assar numa fogueira de película vencida a Ministra Holanda quando lemos sua nota sobre Carlão Reichenbach, para ela tachado de cineasta marginal só porque trabalhou na Boca, até que vemos na tevê Helena Ignez achar injusto o mesmo marginal em relação a Sganzerla, apesar do Bandido e da frase do Oiticica – a Boca ela não cita.

Não é exigir de Helena que se lembre de beber na mesa ao lado da de Jean Garret, não é querer que a Ministra tenha lido Jairo, é só pensar que marginal era esse, era marginal a quê, em quê não se enquadrava, por que o produziu Galante e não Barretos, Farias?

Porque era ditadura, ordem era opressão, marginal era herói – pobre sociologice. A margem, hoje, é outra, Luz e Candeias morreram, a Boca é Cracolândia, filme fora da corrente é alternativo, é não comercial, independente, o cacete, marginal são os nóias.

A posliberdade condena (excuzê mua, Sartre) todos a estarem dentro, fora é o caos, o Não, reino de exus caralhudos. Ser incluído é preciso, viver não é, crianças, a rua é para os ratos, vá ser feliz no face, infeliz também pode, não pode é não ter tribo, tem que assumir, ser público – público, eu disse, não povo.