A MERDÍADA
A Midas, Rei de Creta,
os Deuses, sabem todos,
concederam o dom
de transformar em ouro
tudo que tocasse;
sabem poucos, no entanto,
que Midas tinha um gêmeo,
por nome Merdas.
Eram em tudo iguais
exceto pelo trato
do tesouro que herdaram;
Midas acumulava,
Merdas tudo detonava
em bigas italianas
e outras drogas.
Midas, se sabe, foi
aos Deuses e tal e
ficou mais, muito mais rico.
Merdas torrou sua herança
e se atolou na banca,
Midas comprou a dívida
e, como era da Lei,
fez Merdas seu escravo.
Quando tudo à volta
Midas tornara ouro
e apontava o dedo
para o irmão,
veio-lhe ideia melhor:
que fosse Merdas aos Deuses
com um pedido e fosse
vestido como o Rei.
Aos Deuses disse Midas
(na verdade, Merdas):
- Compreendi vossa lição,
tanta riqueza sufoca,
rogo, misericordiosos,
concedei transformar,
ao toque desta mão,
meu ouro em fezes.
Impressionados ante
tanto desprendimento,
deram os Deuses a Midas
(na verdade, a Merdas)
o implorado;
e, porque ouro é ouro,
valendo para o seu
e todo que alcançasse.
A Midas devolvendo
coroa e manto, Merdas
barbeou-se e saiu
pelos estados vizinhos
a procurar emprego
na guarda de tesouros.
O leitor já viu tudo,
o ouro a seu cuidado
Merdas tornava em fezes.
Midas, então, vizinho
solidário, comprava
tudo a preço de fezes,
levava para casa
e transformava em ouro.
O mundo é pequeno e
cedo ou tarde a fama
de Merdas se espalhou
e o corriam de toda parte.
Voltou aos Deuses, que
(sabem lá eles por que)
lhe concederam o dom
de trocar de cara.
Nepotismo é grego,
os dons passaram aos filhos,
aos netos e tal.
Os descendentes de Midas
são poucos,
os de Merdas muitos e,
ultimamente,
vestem bico e penas.